quinta-feira, 16 de abril de 2009

Como nasce uma mãe?

Hoje estive pensando em lhes escrever, assim, em tom confidencial e
secreto.
Todos nós sabemos como nasce um filho. E, não, definitivamente eu
nunca vou dizer que a cegonha trouxe vocês. Mas, e uma mãe, quando
nasce?
Quando estava grávida do Estêvão, esperava um "puf", um toque, um
bimbalhar de sinos, qualquer coisa que me dissesse que aquele menino era
meu filho. O despertar dos instintos, o acordar da consciência maternal.
Mas eu seguia sendo apenas eu mesma todos os dias, como se as mudanças
sofridas pelo meu corpo não ecoassem na minha alma. Claramente isso me
angustiava: medo de não ser uma boa mãe. Medo de não me sentir mãe do
meu próprio filho, e todas as coisas malucas que a gente pode pensar na
vida.
Então veio o trabalho de parto. Sim, a mãe dentro de mim começou a
nascer ali, a cada contração, a cada apertar, a cada segundo em que me
preparava para dar à luz nosso querido.... Mas não nasceu ali. Acho que
eu estava "grávida de minha parte materna" quando Estêvão nasceu. O
"embrião maternal" se mexia em minhas entranhas psíquicas, mas não tinha
nascido, deveras. Acho que soube seu "sexo" quando comecei a escolher. O
que fazer e o que não fazer. Quais as minhas regras pessoais para
maternar com meu filho. Na medida em que eu me tornava consciente e
ativa, a mãe dentro de mim mostrava a que viera. Ardente, intensa,
exigente, sobretudo de si mesma... E amorosa, mais amorosa que jamais
pensaria poder ser, mais amorosa e íntima que o que jamais poderia ter
vivido de outra forma.
O amor materno é, sem dúvidas, um sentimento arrebatador. Tem os
contornos do amor legítimo, mais intenso e pungente que o primeiro amor,
embora menos barulhento que este. A essência, porém, é algo distinta,
mais revolucionária, mais discreta.
E na medida em que Estêvão cresci,a a mãe em mim crescia também,
tornando-se cada vez mais consciente dele, das suas necessidades e de
que precisava, não se "abaixar" para que ele a entendesse, mas se elevar
para conseguir vê-lo claramente.
Então veio você, Mariles. A gravidez sonhada na hora certa, talvez
cedo demais, mas vinda de uma urgência emocional de refazimento
indescritível. E então você veio. Gestar você é torvelinho, é turbilhão.
Quando soube que você era uma menina, vi-me atirada de cabeça numa
necessidade extrema de rever todos os meus conceitos sobre a vivência do
feminino. O bom e o certo, o adequado e o inadequado, o que eu gostaria
de repetir contigo, o que gostaria de alterar. Gestar você é me revisar,
me reconduzir, me acomodar no útero de mim mesma para dar à luz a uma
parte de mim inédita.
A mãe que há em mim está, portanto, em estado de gestação. Foi
concebida durante as contrações do Estêvão e teve sua gestação durante
seus dois primeiros anos. Agora, com a segunda gravidez, ela se acomoda
no meu íntimo, encaixa-se, adere-se ao "canal da transformação" e começa
a eclodir, lenta, mas irrevogavelmente, levando-me para além de mim para
que tenha a dádiva de, efetivamente, acolhê-los nos braços e fazer pela
nossa família tudo que seja necessário.
É um processo de nascimento doloroso e imparável, intenso e
exigente.... Mas é venturoso, glorioso, terno e, apesar de intenso a
ponto quase de me partir em duas, é calmo, reconfortante, como voltar para casa.