terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Confissão de humanidade

Quando eu era pequena, sempre pensei que minha mãe sabia de tudo.
Tudo, mesmo. Ela sabia a resposta a todos os meus porquês, podia mesmo
ler meus pensamentos mais secretos. Minha mãe era capaz de prever o que
me magoaria, mesmo antes de começar. Eu estava convicta, além de tudo,
que ela sempre sabia o que fazer comigo. "Hesitação" não podia ser amiga de
minha mãe. Certamente, com a experiência insondável que tinha, ela via e
compreendia todas as coisas, desde a costura de roupas de bonecas, até
dedos rachados.
Não sei em que momento essa máscara caiu, só sei que foi bem melhor
assim. Hoje, profissionais da saúde mental aconselham-nos a que deixemos
nossos filhos ver nossa humanidade, sobretudo, nossas dúvidas. Bem, eu
tento isso. Não sei se estou fazendo direito, mas, enquanto não fica
claro, gostaria de confessar que é maior o número das coisas que ignoro
que o daquelas sobre as quais tenho algum vislumbre.
Eu não sei o ponto exato em que a presença vira sufocamento e em que o
"dar espaço" se encontra com a negligência. Por isso eu tento
observá-los, suas reações, suas respostas, afim de que me deêm uma
pista. E, quase sempre, vocês dão, permitindo-me fazer os ajustes que
sejam necessários. Ainda assim, eu me questiono. Não uma, mas
incontáveis vezes.
Apesar disso, tento parecer segura. Tento ser aquela com quem vocês
podem contar, apesar das minhas limitações diversas. Eu realmente tento
ser estável, presente, sensível e amorosa, mas o maior desafio de amar
intensamente é admitir que, apesar da imensidão e sublimidade do
sentimento que nos toma, continuamos sendo apenas nós mesmos. O amor nos
fortalece para que sigamos o caminho de evolução e crescimento que nos
compete, mas não nos exime do dever de prosseguir na caminhada.